quarta-feira, 4 de abril de 2012

Avaliando pessoas

Eu participo da organização da FEBRACE há algum tempo já, e, entre minhas responsabilidades está avaliar projetos. Em resumo,o processo funciona assim: estudantes submetem seus projetos através de um sistema online, um conjunto de mestres e doutores avaliam e selecionam algo como 240 a 300 projetos.

Agora, como saber quais são os melhores entre todos os que foram submetidos? Sem dúvida, este é o maior desafio conceitual para a avaliação da feira. A abordagem comum para este problema é definir um conjunto de critérios de avaliação e um conjunto de observáveis. A partir disso, chega-se a uma lista ordenada dos projetos. Não acaba aí, mas já dá para captar a ideia. Eu quero falar das dificuldades.

A FEBRACE é uma feira nacional com diversas áreas do conhecimento, e isto implica em alguns filtros para a seleção de finalistas. Seleção esta feita à distância, por sinal.

Os projetos submetidos são frutos de um processo conduzido por meses pelos estudantes. Mas se você não tiver acompanhado o desenvolvimento do projeto em si, como saber se ele cumpre requisitos mínimos de qualidade? É difícil saber, ainda mais pelo fato dos avaliadores terem poucos observáveis disponíveis. São formulários, relatório e eventualmente um vídeo disponíveis.

O que quero dizer é: o processo de seleção nem sequer permite selecionar os melhores projetos de fato. Só é possível capturar os mais bem relatados. Um avaliador não acompanha os estudantes no dia a dia, logo a avaliação tem que se basear no material entregue. É a única coisa disponível.

Dessa forma, projetos mal documentados tem muito mais chance de ser mal avaliados que outros bem relatados. Sempre é bom lembrar, a submissão é o momento no qual o estudante descreve o projeto. Olhando assim, é como contar o projeto para quem nunca ouviu falar dele, portanto o estudante tem de prover elementos observáveis capazes de fazer o avaliador entender o projeto. Sem os observáveis fica mais difícil, e a culpa nem é nossa.

2 comentários:

  1. Concordo com vc Alê... Mesmo quando você consegue acompanhar as pessoas já é difícil, imagine só na Febrace... Um professor consegue ter noção de como um aluno se desenvolve, mas não muito aprofundado, pois os observáveis também são restritos. Se pensar em desenvolvimento humano em todos os aspectos, é difícil avaliar se uma determinada coisa faz diferença no todo... Problema complexo!

    Isso sem contar em toda subjetividade de uma avaliação. O que é um projeto bem documentado? Acho que isso varia muito de área para área e aos olhos de quem vê. Difícil avaliar de forma justa neh?

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    1. Você sabe melhor que eu o tamanho do desafio, Nathalia. Sem dúvida que a avaliação tem um componente subjetivo, principalmente pela quantificação.

      Sobre documentação, reforço o que coloquei no artigo: boa documentação permite que um interlocutor conheça o projeto. Como você já disse, isso vai variar conforme a necessidade do projeto, cada um tem um observável diferente.

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